José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Publicidade de alimentos não é a principal causa do sobrepeso em crianças

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Publicidade de alimentos não é a principal causa do sobrepeso em crianças


Obesidade infantil exige força-tarefa

Existem cada vez mais estudos relacionando obesidade infantil a uma dieta extrema de alimentos não saudáveis cujas calorias não são gastos pelo organismo. E para chegar a essa conclusão, não precisamos ir muito longe. Basta verificar o que as crianças consomem e com que frequência repetem os mesmos erros – são refrigerantes, sanduíches prontos, frituras, salgadinhos, tortas, bolos e doces durante suas horas de folga ou em frente à TV.
A má alimentação não é a única culpada. Na verdade, o que causa a obesidade vai muito além. A psicoterapeuta e consultora em Desenvolvimento Humano Priscila Recco alerta: “A má alimentação pode estar diretamente ligada a um dos fatores acima”. “Questiono como está se desenvolvendo a formação desta criança. Como a criança está situada no núcleo familiar? Como é a estrutura oferecida para a criança? Ela tem uma qualidade de sono adequada? Tem alguém para orientá-la nas refeições? Tem cuidado? Tem carinho?”, questiona Priscila.
Não menos importante, o comportamento familiar é outro fator atrelado à obesidade infantil, pois a criança aprende com a imitação do adulto. Para o especialista em nutrição da UNIME, na Bahia, Lauro Freitas, “o mau exemplo familiar colabora, sim. Os filhos seguem exemplos dos hábitos alimentares de seus familiares”.
Priscila Recco completa: “Somos livres para nossas escolhas. Escolha o melhor para o seu filho, não para você, para suas emoções, culpas e medos. O ‘não’ é pedagógico.”
Outra fonte de maus exemplos alimentares é a publicidade, que pode induzir a criança a pedir um produto delicioso e colorido para seus pais. Priscila não quer mexer no mérito da questão, mas afirma que “a publicidade influencia tanto positivamente quanto negativamente na questão da obesidade”. Para ela, ao mesmo tempo que promove consumismo sem qualquer auxílio a um programa de saúde, a publicidade “também tem sido uma forte aliada na divulgação e na orientação da qualidade de vida. Este jornal é um bom exemplo positivo disso.”
Comer demais pode ser uma válvula de escape
A depressão e a ansiedade são dois fatores que podem ser associados ao hábito de comer compulsivamente. Crianças que são alimentadas sempre que choram podem ter esse “mecanismo de proteção” ativado internamente. Segundo a psicóloga Ana Beatriz Cintra, autora do livro Mudando sua história – Obesidade nunca mais, “por ser a obesidade multifatorial, seu tratamento também deve ser multiprofissional”.
De acordo com a especialista, “além da nutricionista, [são necessários] o médico endocrinologista [caso haja algum problema hormonal], um profissional de educação física [que coordena as atividades físicas, para que a criança saia da inatividade] e um psicólogo, para identificar se há alguma angústia, ansiedade ou depressão atrapalhando o programa de emagrecimento e reeducação alimentar e eliminar qualquer fantasia ou crença limitante que impeça-o de obter sucesso”.
Coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro, Mariana Catta-Preta analisa os números altos do sobrepeso no Brasil: “A Pesquisa de Orçamento Familiar mais recente mostra que o percentual de pessoas com excesso de peso e obesas aumentou em todas as regiões do país, em todas as faixas etárias e em todas as faixas de renda”, observa.
Arte - Paula Toom
Gráfico mostra números da obesidade infantil no Brasil
Arroz e feijão
Para começar a mudar a rotina de alimentos, a psicóloga Ana Beatriz Cintra afirma que é preciso seguir algumas recomendações. “Ficar intervalos maiores do que três horas sem se alimentar gera fome. Com fome comemos mais rápido, não dando tempo necessário para percebermos a saciedade e acabamos ingerindo mais alimentos”, diz. “Se ocorrer de sentir fome, ingerir um copo d’água antes de iniciar a refeição. Mastigar bem e pausadamente. E antes de avançar à mesa e montar o prato, analisar o que vai comer e fazer escolhas. E não repetir ‘comidinhas gostosas’ após já ter terminado seu prato”, explica a especialista.
Atividades físicas pedem acompanhamento de especialista
André Siqueira, 12, tem obesidade moderada. Sua mãe, Catarina Palmares, 36, conta que vivia uma “maratona” desde que o filho era menor para o mínimo necessário. “Quando ele assaltava a geladeira, comia tudo o que aparecia na frente dele. Ele comia superbem, saladas, alfaces, espinafre, até rúcula ele comia!”, conta.
Mas o menino cresceu. “Agora, além de ser ‘forte como um touro’ porque comia as comidas saudáveis, também não para de comer tudo o que vê pela frente”, lamenta Catarina. “Já o levei a psiquiatras, que apenas dizem que ele é ansioso e que só uma terapia, aliada a esportes, pode resolver o problema dele”, diz a mãe de André. Segundo ela, na escola, ele é conhecido como Pac-Man (em referência ao jogo de videogame cuja personagem – uma bolinha amarela – come outras peças).
Para evitar o sobrepeso, as crianças devem se exercitar, entretanto, com acompanhamento adequado e exercícios que estejam de acordo com a idade. “Seu organismo [da criança] tem características diferentes dependendo muito da faixa etária. Podem ser usadas brincadeiras que estimulem a movimentação como pular corda, jogar bola, andar de bicicleta, jogos educativos e dança, artes marciais ou esportes de preferência de três a cinco vezes por semana, evitando passar mais de duas horas assistindo à TV ou usando computador e videogame”, afirma a nutricionista Graziela Rita Rodrigues Brandão.
Uma boa dieta nutricional, associada à psicoterapia e exercícios, pode fazer com que crianças, hoje obesas, possam ter uma vida saudável e irem à escola sem medo debullying ou de adquirir transtornos ainda piores, como a anorexia ou bulimia. E de quebra, elas não terão mais os apelidos que, afinal, não têm nenhuma graça.
FONTE: http://www.oestadorj.com.br/saude/obesidade-infantil-exige-forca-tarefa/

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