Pode ter-se maior ou menor propensão para engordar mas quando a
obesidade atinge as proporções actuais há seguramente factores
ambientais envolvidos. Esses factores incluem o tipo e quantidade de
alimentos que as pessoas consomem, a falta de actividade física, e,
provavelmente, muitos outros, como factores psicológicos condicionantes
da relação pessoal com a alimentação, e factores sociais de natureza
vária, como a forma como se organizam as refeições e regras de conduta à
mesa.
* Departamento de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Colunista de Ciência Hoje.
Um estudo muito bem feito publicado este ano (Wijlens et al: Effects of oral and gastric stimulation on appetite and energy intake. Obesity (Silver Spring). 2012. doi: 10.1038/oby.2012.131. [Epub ahead of print])
mostrou que a estimulação na boca, pelos alimentos, contribui duma
forma importante para a sensação de saciedade e menor ingestão alimentar
subsequente.
Isto é, se se comer devagar, ingerindo pequenas porções de cada vez e
mastigando calmamente os alimentos, alimenta-se a sensação de saciedade,
sendo necessária menor quantidade de alimentos para se ficar bem.
Note-se que, por este critério, as calorias que se ingerem nas bebidas
praticamente não têm efeito sobre a saciedade, uma vez que são
rapidamente engolidas.
Três
estudos publicados no último número do New England Journal of Medicine
mostram, precisamente, como o consumo de bebidas açucaradas
(refrigerantes) têm a sua quota de responsabilidade na actual epidemia
de obesidade.
O primeiro (Qi et al: Sugar-Sweetened Beverages and Genetic Risk of Obesity. N Engl J Med 2012; 367:1387-1396. DOI: 10.1056/NEJMoa1203039) revelou como a ingestão de bebidas açucaradas acentua a obesidade em pessoas geneticamente predispostas.
No segundo (de Ruyter et al: A Trial of Sugar-free or
Sugar-Sweetened Beverages and Body Weight in Children. N Engl J Med
2012; 367:1397-1406. DOI: 10.1056/NEJMoa1203034), a ingestão duma
bebida açucarada por dia (250 mL, 104 kcal), por crianças com 5 a 12
anos de idade, durante 18 meses, levou a um maior aumento de peso e de
tecido gordo nestas crianças em comparação com os controlos.
No último (Ebbeling
et al: A Randomized Trial of Sugar-Sweetened Beverages and Adolescent
Body Weight. N Engl J Med 2012; 367:1407-1416. DOI:
10.1056/NEJMoa1203388), uma intervenção que reduziu o consumo de
bebidas açucaradas por adolescentes com excesso de peso ou obesidade,
durante um ano, promoveu um menor aumento de peso durante esse ano
nesses adolescentes do que nos adolescentes do grupo de controlo (que
continuaram com o seu consumo habitual desse tipo de bebidas).
Ou seja, medidas aparentemente tão simples como banir o consumo de
refrigerantes, e outras, de muito maior complexidade mas fundamentais
para se regressar à vida civilizada, como passar a ter refeições
disciplinadas, em comunidade (família, amigos ou colegas), em que se
respeitam as regras de estar à mesa, poderão ter grande impacto na
prevenção do excesso de peso e obesidade que estão a afectar tanta gente
na sociedade actual.
FONTE: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55954&op=all
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