Escolas podem ajudar, com a merenda e projetos, na diminuição do problema |
Nas escolas municipais, cardápio segue determinação do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Foto: Antonio Trivelin)
André Luís Cia
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada entre os anos de 2008 e
2009, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
apontou que uma em cada três crianças com idade entre cinco e nove anos
estavam com peso acima do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde
e pelo Ministério da Saúde. Entre os jovens de 10 a 19 anos, um em cada
cinco apresentaram excesso de peso. São muitos os fatores que
desencadeiam a obesidade, como hábitos alimentares incorretos e o
sedentarismo. Nessa luta contra a balança e as consequencias que a
obesidade pode desencadear em crianças e jovens, as escolas podem
tornar-se grandes aliadas.
Segundo a nutricionista Elisa Coleone Lima, o fato de os estudantes passarem parte do dia na escola
e, em alguns casos, o período integral, isso pode auxiliá-los na
mudança de hábitos incorporando uma dieta mais nutritiva. Neste caso, as
merendas têm papel decisivo. Ela explica que a escolha dos alimentos é
determinada por diversos fatores psicológicos, socioeconômicos e
culturais e que a rigidez não é recomendada. 'Deve haver flexibilidade
evitando-se as proibições e compensando os desequilíbrios com uma
alimentação adequada todos os dias', orienta.
Elisa aponta que um dos grandes vilões da obesidade infantil ocorre
devido ao desmame precoce e à introdução inadequada de alimentos
complementares - consumidos durante o aleitamento-, somados à oferta de
alimentos ricos em açúcar, gordura e sódio. Ela justifica que os hábitos
alimentares são adquiridos durante toda vida, mas que os primeiros anos
são importantes para a adoção de boas atitudes que, normalmente, são
transferidas para a vida adulta evitando vários tipos de doenças, como a
própria obesidade. A nutricionista defende que a participação da família
durante esse processo é fundamental.'Temos que trabalhar a questão da
boa alimentação nas escolas e estes princípios também precisam ser
reforçados em casa', alerta.
Os estudantes Izaias Ferreira Lima, nove anos e Gabriela dos Santos Lima, 10 anos, mudaram a alimentação em casa
após participarem da criação de uma horta escolar, projeto que envolveu
todos os alunos da Escola Municipal Olivia Capranico, no Mario Dedini,
em Piracicaba. 'Eu não gostava de verdura e agora peço para minha mãe
fazer em casa', diz Izaias.
No caso de Gabriela, ela justifica que mesmo podendo trazer alimentos de
casa, que acostumou-se com o projeto do 'lanche saudável', que permite
que de segunda a quinta-feira, os alunos levem lanches, desde que
nutritivos e sadios. A única exceção acontece às sextas-feiras, quando o
menu é liberado e são permitidos doces, salgadinhos e refrigerantes.
'Depois que comecei a me alimentar aqui na escola mudei também os
hábitos em casa e só como alimentos diferentes na sexta-feira e nos
finais de semana', diz.
Mas não são apenas os alunos maiores que adaptaram-se à alimentação
natural. Na manhã da última terça-feira, a reportagem da Gazeta de
Piracicaba acompanhou o preparo e a distribuição da merenda dos alunos
do Ensino Infantil. Os pequeninhos João Vitor , Isabela Samproni e Ana
Beatriz Silva confessaram que 'adoram a merenda'. Além do tradicional
prato de arroz e feijão, dizem que apreciam também as frutas, verduras e
legumes. João, por exemplo, disse que não comia chicória, alface e
cenoura e que hoje pede para a mãe incluí-los no cardápio de casa.
'Comecei a comer aqui na escola depois de colher e comer a chicória que
eu plantei'.
CONSUMO PRÓPRIO
Dentre as escolas estaduais de Piracicaba, a Honorato Faustino,
no São Dimas, se destaca por ter incentivado a plantação e o cultivo de
uma horta e também por receber o projeto 'Galinha Feliz', patrocinado
pela Esalq, que doou em julho do ano passado 20 galinhas para que os
alunos participassem do recolhimento dos ovos que são aproveitados no
preparo da merenda.
Segundo a coordenadora Selma Aparecida Bueno Foltran, a ideia foi
aproveitar o espaço ocioso que havia no local para criar as galinhas e
também para cultivar a horta. No total, 200 alunos, divididos em sete
turmas se revezam nas atividades. Esta semana, houve a primeira colheita
dos alimentos, plantados pelos estudantes, dentre eles, alface, agrião,
beterraba, jiló, chicória, cenoura e temperos variados, como orégano,
manjericão e salsinha.
Como é a merenda
Nas escolas municipais de Piracicaba há diferentes tipos de
merenda. Nas de Ensino Fundamental e Médio, são servidas duas refeições
por aluno, totalizando 36 mil refeições por dia. Ela tem caráter
suplementar, ou seja, fornece quantidade de nutrientes suficientes para
manter o aluno no período que ele permanecer na instituição. Nas escolas
de Ensino Infantil, são servidas duas refeições e; nas de período
integral, quatro, totalizando 39 mil refeições por dia. Existem ainda as
instituições filantrópicas e Emecs (Escolas Municipais de Educação
Complementar). O total é de 80,5 mil refeições por dia.
Segundo a gerente da divisão de merenda da Secretaria de Educação de
Piracicaba, Daisy Diniz Paulo Eluf, o cardápio segue determinação do
Programa Nacional de Alimentação Escolar e são planejados por
nutricionistas utilizando vários gêneros, como arroz, feijão, macarrão e
carnes. Eles atendem às necessidades nutricionais estabelecidas que
preveem, no mínimo, 30 % das necessidades nutricionais diárias dos
alunos matriculados na educação básica, em período parcial e; no mínimo,
70% das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na
educação básica, em período integral.
Procurada para comentar como é o funcionamento da merenda nas escolas
estaduais de Piracicaba, a assessoria de imprensa da Secretaria de
Estado da Educação não se manifestou sobre o assunto até o fechamento
desta edição.
Educadores defendem projetos
As educadoras Cristiane Gomes Salati e Janine Athanasio, que
trabalham na Escola Municipal Olivia Capranico, respectivamente, como
diretora e coordenadora, defendem que a prática de ações educativas,
como a do plantio e cultivo de horta são importantes também no processo
de disseminação do assunto em família. Elas apontam que antes da
implantação do projeto, que foi realizada uma oficina com os pais de
alunos incentivando-os a implantarem a ideia também em suas residências.
'O projeto foi bem aceito por toda comunidade', disse Cristiane.
Segundo o diretor da Escola Estadual Honorato Faustino, João Marcos
Tomaziello, que mantém dois projetos importantes na área alimentar: o da
'horta educativa' e da 'Galinha Feliz', em parceria com a Esalq (na
qual galinhas foram doadas e os alunos recolhem os ovos), o diferencial
positivo é o envolvimento e o interesse de alunos, professores e
funcionários. 'Fico ansioso esperando o momento da colheita para que os
alunos possam consumir o que produziram. A horta contagiou a escola.'
diz. Para o dirigente regional de ensino de Piracicaba, Oldack Chaves, o
trabalho pedagógico voltado para a qualidade de vida e a
conscientização dos alunos é um dos caminhos para que a aprendizagem se
dê também fora das paredes da sala de aula.
FONTE: http://www.rac.com.br/projetos-rac/correio-escola/148461/2012/10/08/obesidade-infantil.html
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