José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Exercícios e boa alimentação podem reverter metabolismo ruim herdado de mãe obesa

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Exercícios e boa alimentação podem reverter metabolismo ruim herdado de mãe obesa

Ter mãe obesa aumenta a chance dos filhos terem risco de complicações metabólicas e outras doenças relacionadas, além dos próprios filhos tenderem a ser obesos. Para mudar este cenário, pesquisadores da Universidade de New South Wales, na Austrália, conseguiram comprovar que exercícios físicos combinados com alimentação saudável podem reverter um quadro metabólico negativo herdado pelos filhos. A maternidade de uma obesa altera hormônios e tem consequências na regulação do apetite e metabolismo. Além disso, é também associada com pressão alta, intolerância à glicose, doenças metabólicas e contribui para aumentar os depósitos de gordura nos filhos.

A pesquisa foi publicada este mês no jornal Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Disease. Foi feita pela doutoranda Sultana Rajia, sob orientação das professoras Margaret Morris e Hui Chen. O estudo, feito com ratos, revelou que a prole de mães obesas, quando submetidas a exercícios e alimentação saudável, conseguiu reverter um cenário metabólico negativo. De acordo com Margaret Morris, o número de obesos e pessoas com sobrepeso tem aumentado dramaticamente nas últimas décadas, o que motivou a pesquisa. "Esta crescente global de obesidade significa que um terço das mulheres grávidas hoje estão com sobrepeso ou obesas em muitas partes do mundo, e isso pode ter consequências negativas para os filhos. Como a maioria dos sistemas afetados pela obesidade são semelhantes entre roedores e seres humanos, nós estamos usando o modelo animal que nos permite coletar dados através das gerações em tempo hábil", explicou. Para a pesquisadora, por ser difícil controlar o nível e a duração dos exercícios nos humanos, estudos com animais de laboratório auxiliam a indicar tipos de intervenções que podem ser mais ou menos eficientes.

No estudo, as proles das ratas obesas estavam, três semanas após o nascimento, 12% mais pesadas do que filhotes de ratas não obesas. Eles tinham alto acúmulo de gordura, além de ter aumentado o índice de lipídios plasmáticos (compostos com estrutura molecular variada que tem diversas funções, como colaborar na composição da membrana plasmática das células) e intolerância à glicose. Quando alguns ratos jovens foram submetidos a uma dieta calórica o aumento de peso chegou a 37%. Após uma bateria de exercícios físicos e alimentação correta aplicados nos ratos nascidos de mães obesas os índices de massa gorda, lipídios plasmáticos, pressão sanguínea e resistência à insulina diminuíram. Os ratos que somente tiveram uma alimentação saudável e prosseguiram sedentários não foram capazes de reverter os riscos metabólicos.

O pesquisador Lício Velloso, do departamento de Clínica Médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é um dos principais estudiosos sobre obesidade no país. Ele avaliza a importância do estudo australiano. "Esta claro que, por mecanismos epigenéticos, mães obesas acabam gerando proles que podem tornar-se mais facilmente obesos e diabéticos no decorrer da vida. Entretanto, de acordo com este trabalho. A exposição precoce a atividade física é capaz de reverter tal quadro. Este estudo, portanto, é muito importante pois prova que por meio de uma abordagem relativamente simples (atividade física) pode-se reverter um quadro potencialmente grave, que foi induzido durante a gestação", explicou.

Mesmo assim, Velloso faz uma ressalta contra a abordagem da pesquisa. "O problema é que somente uma minoria das pessoas consegue modificar seus hábitos de vida. Assim, mesmo frente aos resultados desta pesquisa, infelizmente, terapias comportamentais não vão modificar nossas projeções de crescimento e descontrole da prevalência global destas doenças", disse. Para o docente brasileiro, a vontade dos indivíduos em alterarem um quadro metabólico via dieta e exercícios é um dos maiores impasses para que políticas públicas contra obesidade tenham sucesso. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 48% das mulheres com mais de 20 anos estão com sobrepeso e 16,9% são obesas.

A pesquisa pode ser encontrada no link: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0939475311002857

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