Carta assinada pela presidente do Congresso Mundial de Ciência e Tecnologia diz que debate sobre a propaganda no estímulo à obesidade afugentaria patrocinadores
O 16.° Congresso Mundial de Ciência e Tecnologia de Alimentos,
que será realizado em agosto pela primeira vez no Brasil, teve um debate
sobre obesidade infantil cancelado após a presidente do encontro,
Glaucia Pastore, argumentar que o tema afugentaria patrocinadores. A
mesa trataria o papel da mídia em relação à obesidade e a polêmica
regulamentação da publicidade voltada a crianças.
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Arquivo/AE
Para especialistas, propagandas de alimentos gordurosos podem incentivar o consumo e o ganho de peso
O Estado teve acesso a uma carta da Associação Latinoamericana
de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ALLACTA), que também é presidida
por Gláucia - professora da Unicamp e referência em alimentação no
Brasil - em que pede o cancelamento do tema para a Sociedade Brasileira
de Ciência e Tecnologia de Alimentos (sbCTA). Outros 10 membros assinam.
A sbCTA é quem havia proposto a discussão, considerada um dos graves
problemas de saúde atual.
Em espanhol, o texto diz que o tema “causaria inconvenientes com
potenciais patrocinadores”. “Isso é um absurdo. Mostra como estamos
vendidos à indústria e como, em nome desses interesses, deixa-se de
discutir um tema tão importante e tão grave no País”, afirma a
presidente da sbCTA, Jane Menegaldo, que também é pesquisadora da
Embrapa. “Perde-se a chance de fazer de forma séria esse evento, que
pela primeira vez será na América Latina.
Outro foco. Apesar de o conteúdo da carta
deixar explícito a questão do entrave com patrocinadores, a presidente
do congresso, Gláucia Pastore - , nega que tenha havido qualquer
interesse em coibir o tema. “A retirada da mesa é muito mais uma questão
de adequação científica do que uma questão ética. Eles propuseram sem
que o comitê soubesse”, argumenta.
Segundo Gláucia, a alteração foi uma “questão de foco”: “o
assunto seria contemplado, mas no âmbito da programação internacional.
“Tanto é, que a questão da obesidade está na programação”, afirma.
Na programação do congresso, de fato há uma série de palestras
sobre o assunto, no entanto nenhuma delas aborda o papel da publicidade
na obesidade infantil. Entre os temas estão, por exemplo, “Uma visão
sobre a epidemia global da obesidade” e “Comida tradicional e os
modernos parâmetros e marcadores de obesidade”.
Era plural. Quem conduziria a mesa sobre a influência da
mídia na obesidade infantil seria o engenheiro de alimentos Luiz Eduardo
de Carvalho, professor da Universidade Federal do Rio Janeiro e
ex-presidente a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de
Alimentos (sbCTA) - dirigiu a entidade de 1986 a 1991.
“Para que serve um congresso científico? Não é para discutir o
que afeta a sociedade?”, questiona. “Acho um despropósito. Eu cheguei a
fazer os convites aos debatedores e tomei o cuidado de nem chamar quem
poderia ser visto como militante”.
Na lista de convidados para o debate estavam a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde, o Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e a Associação
Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA).
A Abia afirma desconhecer a existência da carta e, em nota,
afirma que o “o setor de alimentos entende que o tema deve ser debatido
nos fóruns de interesse para que se encontre a melhor solução para a
sociedade e para a indústria”.
Em 2010, a Anvisa publicou uma resolução sobre a oferta e a
propaganda de alimentos com o objetivo de "coibir práticas excessivas
que levem o público, em especial o público infantil, a padrões de
consumo incompatíveis com a saúde", A norma foi suspensa pela justiça
três meses depois em resposta a uma ação da Associação Brasileira das
Indústrias da Alimentação (Abia).
FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,por-patrocinio-evento-veta-obesidade-infantil,898937,0.htm
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