José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Apesar do alto número de obesos, EUA demoram para conter indústria do fast-food

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Apesar do alto número de obesos, EUA demoram para conter indústria do fast-food

McDonald's gastou globalmente cerca de 1,74 bilhão de dólares em propagandas
Quando a cadeia de fast-food McDonald's decidiu adicionar aveia em seu cardápio, em janeiro de 2011, ela literalmente enfeitou a oferta como sendo uma "solução para café da manhã portátil, acessível e balanceada... para ajudar a tornar mais fácil e mais convidativo para nossos clientes comer mais grãos integrais e frutas".

Embora uma única porção de aveia comum tenha um grama de açúcar, uma porção (253 gramas) de fruta e aveia com açúcar mascavo do McDonald's contém 32 gramas de açúcar. Uma porção da mesma aveia, sem açúcar mascavo, contém 18 gramas de açúcar, de acordo com as informações nutricionais da empresa.
"Por que iria o McDonald's... utilizar um venerável ingrediente como a aveia e transformá-la em uma junk food cara?" lamentou o colunista do The New York Times, Mark Bittman, em fevereiro de 2011. A aveia do McDonald's, apontou ele, "contém mais açúcar que uma barra de Snickers e (tem) apenas 10 calorias a menos que um cheeseburger ou Egg McMuffin do McDonald's".

Mas os críticos dizem que a estranha habilidade do McDonald's em transformar um alimento inerentemente saudável em um produto processado de maneira não natural (só a aveia pura contém sete ingredientes, incluindo "sabor natural", de acordo com Bittman) nem é a mais escandalosa façanha que grandes corporações de alimentos conseguem manejar.

Por exemplo: um supermercado da Nestlé zarpou em em forma de barcaça no Rio Amazonas no Brasil em junho de 2001 como um dos esforços mais estranhos da indústria de alimentos para oferecer aos consumidores uma gama maior de alimentos processados e empacotados. Mesmo que alimentos processados sejam baratos, observou Bittman, "os custos não são vistos na caixa registradora, mas na forma de altos orçamentos de saúde e degradação ambiental".

Nos Estados Unidos, ativistas altamente críticos de corporações que comercializam agressivamente para atrair e manter uma base de consumidores regulares também são críticos do governo, que por sua vez parecem inabilitados ou relutantes em regular essas corporações, seja limitando sua comercialização, seja requerendo que elas se adaptem a padrões nutricionais específicos.

Sistema sobrecarregado

Em decorrência disso, não apenas estão indivíduos e comunidades sentindo os efeitos de um consumo consistente de insalubres alimentos processados, cheios de de açúcar e gorduras, mas sociedades ao redor do mundo e a própria Terra também são forçadas a carregar o pesado fardo do sistema de agricultura insustentável sobre a qual a indústria alimentícia repousa.

Cerca de 33,8% dos adultos nos Estados Unidos são obesos, de acordo com o Centro para o Controle de Enfermidades (Centres for Disease Control – CDC). Obeso significa ter uma massa corporal maior que 30%. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que em 2015, 2,3 bilhões de adultos estarão obesos.

Estilos de vida que incorporam pouco ou nenhum exercício e uma dieta processada rica em gordura e açúcar estão associados à obesidade e a estar acima do peso, que estão conectados a várias questões de saúde, incluindo problemas no coração, diabetes de tipo 2 e alguns cânceres.

Táticas de marketing

No dia 1º de dezembro, uma lei entrou em vigor em San Francisco, Califórnia, conhecida como Portaria de Incentivo a Refeições Saudáveis (Health Meals Incentive Ordinance), estabelecendo padrões nutricionais básicos para refeições que, destinadas a crianças, vêm acompanhadas com brinquedos grátis. Antes de a lei ser aprovada, de acordo com a Responsabilidade Corporativa Internacional (Corporate Accountability International), o McDonald's ameaçou processar San Francisco com base na Primeira Emenda.

Uma vez que a lei entrou em vigor, em vez de dar os brinquedos com seus McLanches Felizes  (Happy Meals), o McDonald's decidiu cobrar 10% por brinquedo. "A lei teve um tremendo impacto na saúde pública mesmo antes de entrar em vigor," apesar da abordagem do McDonald's, disse Sara Deon, diretora da campanha Valor da Refeição (Value the Meal).

O sul de Los Angeles aprovou uma moratória limitando o desenvolvimento de novos restaurantes de fast-food, por exemplo, e a rede Jack-in-the-Box eliminou inteiramente os brinquedos de suas refeições. Embora proibir os brinquedos que acompanham as refeições não deva mudar nada sobre os atuais valores nutricionais e do conteúdo efetivo da comida, as mudanças têm impacto em quem compra refeições fast-food, e também na frequência com que ela é comprada.

"Na verdade, é tudo marketing," Deon disse à IPS. "Grandes empresas de alimentação criam demandas grandes para seus produtos através de um marketing agressivo, com algumas empresas, especialmente o McDonald's, fazendo um marketing especialmente agressivo em relação às crianças, então eliminar brinquedos realmente ajuda a reduzir a demanda", concluiu.

Em 2007, o McDonald's gastou globalmente cerca de 1,74 bilhão de dólares em propagandas, de acordo com um relatório da Consumers International. Yum Brands, a empresa matriz da Taco Bell, Pizza Hut e KFC, gastou 1,23 bilhão de dólares. Além disso, "agências federais manejam uma tremenda influência sobre quais tipos de alimentos nós comemos e a informação que recebemos sobre eles," escreveu Michele Simon, uma advogada pública de saúde, em seu blog, apontando que o governo estabelece padrões alimentares de segurança, dá conselhos nutricionais e subsidia a agricultura.

Entretanto, poderosos lobbies da indústria alimentícia estão aptos a pressionar congressistas e senadores que defendem distritos onde os empregos das pessoas dependem das corporações da indústria alimentícia.

Conflito de interesse

Muitos ativistas duvidam seriamente do comprometimento dos legisladores em assegurar que as pessoas tenham acesso a comidas saudáveis a preços acessíveis, alegando conflito de interesses e um foco em proteger as corporações em vez de as pessoas.

Em abril, o Grupo de Trabalho de Interagência (Interagency Working Group – IWG), incluindo a Comissão Federal de Comércio (Federal Trade Commission), a Administração de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration), o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC) e o Departamento de Agricultura dos EUA, desenvolveram e propuseram recomendações tanto a respeito da qualidade nutricional da comida vendida para crianças e adolescentes quanto das práticas de marketing.

O Comitê da Câmara de Energia e Comércio (House Committee on Energy and Commerce), entretanto, escreveu uma carta ao Interagency Working Group dizendo que "as causas reais da obesidade infantil têm mais a ver com atividades físicas inadequadas e excesso de consumo de calorias do que com propagandas e embalagens de alimentos.

Essa carta ignorou evidências de uma conexão entre o marketing e a compra e consumo de fast-food, que, por sua vez, contribui para o excesso de consumo de calorias. A carta solicitou ao IWG para "retirar a proposta atual e iniciar uma nova".

"As empresas simplesmente lançam seu dinheiro em volta e ameaçam políticos caso eles tentem ficar no caminho delas", disse Simon. "Mesmo quando agências reguladoras tentam fazer a coisa certa, elas são impedidas por membros congressistas que as orientam."

Simon não está convencido que regulações e diretrizes são a solução mais viável para acolher e incluir questões relacionadas à nutrição pobre, obesidade, e um sistema alimentício insustentável que explora a mão de obra e machuca os animais. Para ele, é necessária uma completa revisão do sistema. Seu chamado para acabar com o controle das corporações e indústrias tem um som familiar. "Nós precisamos construir um movimento político," disse.

Ainda assim, apesar de "um monte de reestruturações localizadas" e alternativas como mercados de agricultores, tais opções são insuficientes, insistiu ela, porque elas fracassam em atingir o núcleo de um sistema falho e quebrado.
FONTE: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/19226/apesar+do+alto+numero+de+obesos+eua+demoram+para+conter+industria+do+fast-food.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário