José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Cirurgias contra obesidade em adolescentes ainda suscitam dúvidas

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Cirurgias contra obesidade em adolescentes ainda suscitam dúvidas

Adolescente norte-americana acompanhada por um ano já ganhou metade do peso que perdeu. Leia a história dela

Foto: Todd Heisler/The New York Times Ampliar
Antes da cirurgia: Shani, 113kg, espera pela consulta com o médico

Apesar de ser importunada desde a quarta série por ser gorda, Shani Gofman aprendeu a lidar com isso.

Ela tirava boas notas e participava do clube de teatro na escola. Tinha bons amigos e um namorado que conheceu pelo Facebook. Ela até mostrava suas curvas vestindo leggings de lycra e camisas justas.
Quando sua pediatra, Senya Vayner, mencionou pela primeira vez a cirurgia para perda de peso, Gofman tinha 17 anos, ainda morava com os pais e seu quarto era decorado com estrelas que brilham no escuro, porque ela tinha medo do escuro.
Sem dúvida, com cerca de 1,5 metro de altura e mais de 113 kg, ela estava com sobrepeso. No entanto, disse que não estava interessada e que poderia fazer uma dieta.
"Eu vou perder peso", disse Gofman à sua médica. Profeticamente, Vayner afirmou: "Não é culpa sua, mas você não vai conseguir".
Junto com a epidemia de obesidade nos Estados Unidos, as cirurgias de perda de peso explodiram, com cerca de 220 mil operações por ano – tendo se multiplicado por sete em uma década, segundo dados do setor – custando mais de 6 bilhões de dólares por ano.
E o grupo que começou a se submeter a elas mais recentemente são pacientes jovens como Gofman, que permitiu que o New York Times a acompanhasse durante um ano, período em que ela se submeteu à operação e embarcou em uma jornada para perder peso, envolvendo desafios à sua moral, sua autoimagem e a suas relações com a família e amigos (veja a galeria de fotos no final desta reportagem).
No entanto, a eficácia a longo prazo da cirurgia de perda de peso, incluindo aquela que envolve colocar uma banda ao redor do estômago, o procedimento pelo qual passou Gofman, ainda é questionada. E a tendência a realizar essas cirurgias em jovens tem levado a uma certa resistência dos médicos, que dizem que operar pacientes cujo corpo ainda está em desenvolvimento e que ainda não tiveram muito tempo para perder peso por si mesmos é algo muito drástico.
"Eu acho que é bastante extremo mudar a anatomia de uma criança quando nem sequer se tentou outras alternativas", diz Wendy M. Scinto, médica de família de Manlius, Nova York, que é especializada em endocrinologia pediátrica. Ao contrário dos pacientes mais velhos, "não existe uma grande urgência em operar, pois eles não correm risco de vida", advertiu.
De 1% a 2% das cirurgias para perda de peso, também conhecidas como bariátricas, são praticadas em pacientes com menos de 21 anos, mas há pesquisas que estão avaliando os resultados da intervenção em crianças até 12 anos.
A Allergan, fabricante do popular Lap-Band, uma banda de silicone que é inserida cirurgicamente e constringe o estômago para que o paciente se sinta satisfeito rapidamente, solicitou autorização da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos EUA para promover a banda entre pacientes até 14 anos, quatro anos mais jovens do que o permitido atualmente. Hospitais de todo o país inauguraram centros bariátricos para adolescentes nos últimos anos. Os médicos que estão abertos a operar pacientes mais jovens acham que há evidências consideráveis de que fazer dieta muitas vezes não dá certo.
"A maioria de nós testemunhou a medicina consagrada dar o mesmo conselho repetidamente às crianças obesas – elas continuam a ouvir que precisam seguir uma dieta e brincar mais ao ar livre", afirma Thomas Inge, professor de cirurgia e pediatria da Universidade de Cincinnati, que está participando de um estudo dos Institutos Nacionais de Saúde sobre a cirurgia para perda de peso em adolescentes.
"Eu gostaria que fosse simples assim."
Em dezembro de 2010, Gofman, que tinha acabado de fazer 19 anos, chegou acompanhada de sua mãe ao consultório do médico Danny Sherwinter, o atlético e loquaz chefe de cirurgia bariátrica do Centro Médico Maimonides, no Brooklyn. Gofman estava nervosa, mas animada.
Ela tinha decidido fazer a cirurgia da banda gástrica, a única que Sherwinter faz, porque é reversível e tem um risco relativamente baixo. Ela pesava 123 kg, com índice de massa corporal de 51, bem acima do mínimo de 40 ou 35 para pessoas com pelo menos um outro problema de saúde relacionado à obesidade, que era necessário para o uso da banda (em fevereiro, o FDA se recusou a estabelecer 30 como o índice de massa corporal mínimo – isto é, o limiar da obesidade – para os pacientes com outros problemas de saúde).
Sherwinter disse a Gofman que, de acordo com a média, ela poderia esperar perder cerca de 40% de excesso de peso, isto é, de 32 a 36 kg.
"O que é melhor do que qualquer dieta que existe por aí", disse ele. "A nossa expectativa é de que você chegue a cerca de 90 quilos."
A operação demorou cerca de 25 minutos. O Child Health Plus, um plano estadual popular de saúde, cobriu o custo de 21,369 dólares. Atualmente, o Medicaid, na maioria dos estados, e muitos seguros privados, cobrem a cirurgia bariátrica, muitas vezes mais facilmente do que planos de dieta e exercício.
Dúvidas a longo prazo
A cirurgia à qual Gofman foi submetida, chamada de banda gástrica ajustável por laparoscopia, representa cerca de 39% de todas as cirurgias bariátricas. Os outros dois principais tipos são o bypass gástrico em Y de Roux, que implica grampear o estômago para fazer um "saco" e rearranjar o intestino, e a gastrectomia vertical, que consiste em remover a maior parte do estômago, transformando o que resta dele em um tubo fino.
A Allergan, que também fabrica o Botox, domina o mercado de bandas gástricas, a tal ponto que o Lap-Band é frequentemente mencionado como um nome genérico, tal como Kleenex e Band-aid. No entanto, os esforços para obter aprovação do FDA para vendê-lo a pacientes mais jovens surgiram em meio à observação dos primeiros indícios de que a banda gástrica pode produzir resultados ruins a longo prazo.
Uma pesquisa belga, realizada em pacientes adultos, descobriu que aproximadamente metade deles removeu a banda até 12 anos após colocá-la, por diversas razões, de acordo com o autor principal do estudo, Jacques Himpens: eles não perderam muito peso; recuperaram o que tinham perdido; sofreram frequentemente com azia ou vômitos; e, em alguns casos, a banda escapou e penetrou o estômago.
Outra pesquisa, realizada na Austrália, revelou que um terço das cirurgias realizadas em adolescentes exigiu que operações subsequentes fossem feitas nos dois anos seguintes à primeira intervenção, muitas vezes por "dilatação do saco", quando o estômago, localizado acima da banda, acaba por se dilatar, o que pode acontecer se o paciente não seguir o regime e tentar comer demais.
Cathy Taylor, porta-voz da Allergan, observou que tais estudos se basearam em pequenas amostragens. Taylor disse que os estudos realizados com adultos não refletem as recentes melhorias implementadas na banda e nas técnicas cirúrgicas. Ela afirmou ainda que as complicações que ocorreram na pesquisa desenvolvida junto a adolescentes não são graves.
Observando resultados
Gofman chegou para a sua primeira consulta pós-operatória 13 dias após a cirurgia. A balança marcou 114 kg, nove abaixo do seu último peso registrado. No entanto, seu ânimo não parecia corresponder à perda dos quilos.
"Você disse que eu poderia comer um pouco de purê de batatas", disse ela a Sherwinter.
"Eu medi a quantidade. Eu não me senti nada satisfeita. Então, eu me senti mal. Comi um pouquinho e, depois, um pouquinho mais, e ainda não me sentia cheia. Mas eu parei."
Gofman queria um "enchimento" de banda, uma infusão de soro fisiológico para fazê-lo constringir ainda mais o estômago, apesar de Sherwinter ter dito a ela para esperar seis semanas. Em seguida, ela confessou que também tinha comido um guioza.
Mais tarde, ao esperar o trem para o trabalho na plataforma do metrô, Gofman se queixou de como a cirurgia tinha mudado o ritmo da sua casa.
"Minha mãe não cozinha tanto, já que não tem ninguém para comer", disse ela.
FONTE: http://saude.ig.com.br/minhasaude/cirurgias-contra-obesidade-em-adolescentes-ainda-suscitam-duvida/n1597586714242.html

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