José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Muito peso e pouco acesso

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Muito peso e pouco acesso

29/12/2011
Assentos pequenos, catracas, escadas, somados a falta de consciência e preconceito, são as inúmeras dificuldades que os obesos enfrentam ao precisar utilizar o transporte público nas capitais do País.  Mas o coletivo está longe de ser o único lugar onde o termo acessibilidade passa longe, os obstáculos encontrados por essas pessoas dificultam atividades rotineiras como trabalhar, passear e até mesmo obter atendimentos em hospitais.
Quem enfrenta todos essas dificuldades diariamente é o amazonense Ezequiel Oliveira, 46 anos. Há mais de seis anos Ezequiel, que pesa 126 quilos, não vai ao cinema devido às salas não terem assentos especiais para pessoas obesas, além disso, as escadas não ajudam muito. “Tenho medo de cair”, diz.  Em 2005, Ezequiel desenvolveu uma profunda depressão, após a morte da mãe e de um irmão, na época ele pesava menos de 100 quilos. “Afogava a minha tristeza nas bebidas”, lembra.
A dona de casa Gessinéia Almeida, de 41 anos, também convive com a obesidade desde pequena, a doença foi herdada dos pais. “Quase todo mundo da minha família é assim. Tenho uma tia que pesa quase 200 kg e está tentando fazer uma cirurgia”, diz Gessinéia, que pesa 129 kg.
Com muita perseverança e persistência, a dona de casa, que antes pesava 149 kg, conseguiu eliminar, desde agosto deste ano, 20 kg por meio do Programa de Obesidade, da Policlínica Oswaldo Cruz. Gessinéia até então, nunca tinha feito uma dieta na vida, mas depois de enfrentar vários tipos de preconceitos e discriminação resolveu reverter à situação. “Teve caso de eu não conseguir emprego por causa da aparência. Fora que muitas pessoas apontam para você na rua, no ônibus, dizendo que não fazemos dieta porque não queremos. Ninguém é gordo porque quer. Gordura também é doença!”, desabafou.
Um dos maiores medos de Gessinéia era ficar presa na roleta do ônibus e ficar sendo observada pelo outros passageiros, como muitos casos que já presenciou. “Muitos motoristas não estão nem aí. Parece que está carregando bichos. Puxa vida eu estou pagando é meu direito”, reclamou.
Mesmo assim, Gessinéia que já trabalhou como auxiliar administrativa, se diz muita ativa, um dos fatores que a ajudou a perder peso com o tratamento. “Não costumo comer muita salada, porém com o tratamento, comecei a mudar meus hábitos, fazer a dieta de acordo com o determinado pela nutricionista”.

MOTORISTAS NÃO TÊM PACIÊNCIA

As inúmeras queixas de pacientes acima do peso, são ouvidas atentamente quase todos os dias pela especialista em obesidade, Alessandra Valichek, da Policlínica Oswaldo Cruz. Ela classifica dois tipos de pacientes: “Pessoas que estão cansadas em fazer a dieta da moda, da revista, da vizinha ou de tomar remédios sem prescrição médica. E há pacientes que querem realizar cirurgias”. Segundo ela, o foco principal do Programa de Obesidade, que conta com duas nutricionistas, uma médica e uma psicóloga, é a mudança de hábitos do paciente. O tratamento leva em média um ano.
Conforme a médica, a obesidade é classificada em vários níveis, e o nível mais grave, a obesidade mórbida, está acima de 45 da massa corpórea normal. “Em 95% dos casos nós não encontramos nenhuma patologia, e sim maus hábitos, os problemas mais graves estão relacionados à ansiedade, em que o paciente encontra alívio na alimentação e acaba ganhando peso”, esclarece.
Alessandra contou que recebe muitos pacientes de outros municípios.  “A minha maior preocupação em relação a essas pessoas é sobre a questão da entrada nesses veículos, não é nem em relação aos assentos. Muitos passageiros, assim como os motoristas e cobradores, não têm paciência para aguardar a subida dessas pessoas nos veículos, já que elas precisam de ajuda. O difícil mesmo é entrar, depois que ele consegue fica um pouquinho mais fácil”, afirma.

ÔNIBUS SERÃO ADAPITADOS, SEGUNDO SECRETÁRIO DE TRÂNSITO

Com o aumento do índice de pessoas com excesso de peso e obesidade, nasce a preocupação de criar alternativas para melhorar condições de acesso a serviços de lazer, transporte público, cinema e restaurantes. Mas os investimentos dos órgãos nesse sentido ainda parecem tímidos.
O secretário Municipal de Trânsito (Semtran), Cláudio Carvalho, explicou que 186 novos ônibus estão adaptados com elevadores e assentos especiais, dentro da lei nº 10.098, da Constituição Federal, que estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
De acordo com o secretário, 10% do transporte coletivo devem possuir assentos com cores diferenciadas dos outros lugares. Além dos assentos, as pessoas obesas entram pela frente dos veículos depois de pagar o cobrador que posteriormente roda a catraca.
Já em relação à acessibilidade na realização de atividades de lazer como o cinema, a expectativa é que a adaptação às normas aconteça a partir do ano que vem, conforme a assessoria do Porto Velho Shopping. Atualmente, o cinema do shopping não possui assentos diferenciados para pessoas obesas. Em muitos bares e restaurantes também não há cadeiras especiais para este público.

PACIENTE NÃO CONSEGUE FAZER EXAME POR CAUSA DE PESO

Ezequiel Oliveira é paciente de Alessandra Valichek, no Programa de Obesidade da Secretaria de Estado de Fazenda de Rondônia (Sefaz). “Comecei no programa com ajuda dela, da psicóloga e da nutricionista”, lembra.  Além da terapia uma vez na semana e remédios para depressão, ansiedade, entre outros, Ezequiel cumpre um cardápio diferenciados todos os dias.
Desde 2009, ele eliminou cerca de 40 kg com ajuda do programa. Contudo, apesar de eliminar o excesso de peso, Ezequiel tem enfrentado outros dilemas. O primeiro, diz respeito à necessidade de uma cirurgia plástica para retirar a grande quantidade de tecidos adquirida após o início do programa.
Mas o seu maior problema no momento é em relação ao exame de tomografia que foi pedido pelo seu neurologista em junho deste ano. “Desde início do ano tenho sentido fortes dores de cabeça e não consigo fazer o exame nos hospitais de Porto Velho”, conta. Ezequiel relatou que já tentou fazer a tomografia três vezes e até agora não conseguiu atendimento, porque o equipamento suporta até 120 quilos e Ezequiel tem seis a mais. “Isso é um absurdo, fiquei sabendo que existem aparelhos que suportam até 200 kg”. Ezequiel já registrou queixa na delegacia e pretende entrar com uma ação no Ministério Público.

PORTO VELHO TEM 51,8 ACIMA DO PESO

Segundo o Ministério da Saúde, mais de 51,8% da população de Porto Velho está acima do peso. Sendo 54,9 % homens e 48,2 mulheres, com mais de 18 anos. A maior frequência de excesso de peso está, no caso de homens, em Rio Branco 60,5%, Distrito Federal 58,4% e Rio de Janeiro 56,5% e, no caso de mulheres, em Fortaleza 50,8%, Rio Branco 49,4% e Rio de Janeiro 49,1%.
De acordo com uma Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) em 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em todas as regiões do Brasil aumentou o número de pessoas com excesso de peso e obesidade. O excesso de peso, atinge mais de 30 % das crianças de 5 e 9 anos, cerca de 20% da população de 10 a 19 anos e 48% das mulheres e 50, 1% dos homens acima de 20 anos, sendo destes 16, 9% considerados obesos.
O diagnóstico da obesidade é feito a partir do Índice de Massa Corporal (IMC) obtido pela divisão entre o peso (medido em quilogramas) e o quadrado da altura (medida em metros). O excesso de peso é diagnosticado quando o IMC alcança valor igual ou superior a 25 kg/m2, enquanto que a obesidade é diagnosticada a partir do IMC de 30 kg/m2.
FONTE: http://www.diariodaamazonia.com.br/diariodaamazonia/index2.php?sec=News&id=13519

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