Pode. E a tese de doutoramento apresentada na Universidade do Minho por Rafaela Rosário no passado mês de Março mostra-o.
Naquele estudo, o estratagema consistiu em
envolver professores do ensino básico em formações, devidamente
creditadas, sobre educação nutricional para que estes pudessem
desenvolver junto das crianças acções de aprendizagem de hábitos
alimentares saudáveis.
Apesar das inúmeras chamadas de atenção
sobre a obesidade, a doença atinge níveis históricos nos países
ocidentais. A falta de sucesso em inverter esta tendência desvia muitas
vezes a nossa atenção para a necessidade de intervenções milagrosas para
a obesidade, correndo também o risco de exagerar na preocupação com o
peso e a forma corporal ou levar a um estilo de comer com culpa e até de
asfixia do prazer decorrente da ingestão, em indivíduos susceptíveis.
Faz,
por isso, sentido aprender com experiências como as de Rafaela Rosário,
em que a abordagem da prevenção da obesidade é descentrada do peso para
ser focalizada na promoção de estilos de vida saudáveis e, desta forma,
agir nos processos que controlam o ambiente onde operam factores
individuais, como os cognitivos, motivações, capacidades, comportamentos
e inter-relações entre indivíduos.
A influência dos factores que
determinam o peso corporal pode registar-se a vários níveis,
destacando-se: a família, nomeadamente a mãe, por proporcionar o sistema
alimentar, os valores sobre a forma corporal e o que constitui um peso
adequado; as organizações sociais, como a escola, que estabelecem um
contexto importante para a determinação dos comportamentos sobre a
alimentação e o peso, condicionam exigências ao nível do gasto
energético, modulam pressões e oportunidades de ingestão; e a
comunidade, que proporciona o contexto onde o indivíduo vive e se
relaciona com os sistemas alimentares, podendo oferecer bares, cantinas,
restaurantes, estabelecimentos de comida rápida saudável ou, pelo
contrário, destacar-se pela ausência de serviços de alimentação que
proporcionem refeições adequadas.
Em estudos portugueses,
verificamos que muitas crianças crescem num ambiente de grande exposição
a ecrã (TV, DVD, computador, jogos) e de privação de sono (geradora de
crianças “mal dormidas”), que se mostra favorecedor da obesidade e de
uma composição corporal maior em massa gorda. Mas a sociedade pode
contrariar este cenário e contribuir com políticas nutricionais,
sistemas alimentares, valores sociais, meios de transporte e actividades
de recreação, incluindo as que envolvem exercício, capazes de modularem
o balanço energético e o peso, como tão bem mostram as experiências
recentes de muitos municípios portugueses, apresentadas no Congresso
Português de Alimentação e Autarquias, no passado mês de Março, em
Lisboa.
pedromoreira@fcna.up.pt
*Nutricionista e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto
*Nutricionista e Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto
FONTE: http://lifestyle.publico.pt/nutricao/303657_podemos-travar-a-obesidade-infantil-nas-escolas-portuguesas
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