São Paulo -
O prazer de comer está ligado à liberação de dopamina no organismo.
Estudos já demonstraram que os mecanismos da sensação de satisfação
obtida com a comida – principalmente a gordurosa – são bem semelhantes
ao caminho da droga no organismo.
Um estudo da Universidade do Texas, publicado no The Journal of
Neuroscience, descobriu que os obesos têm menos receptores de prazer do
que os demais e, por isso, comem mais para compensar.
Com tantas pesquisas reforçando o caráter vicioso do consumo de comida
em excesso, para quem a balança já alcançou índices além do desejado,
vencer a batalha contra o peso parece ainda mais difícil.
“Comer ativa o funcionamento do sistema de recompensa. A alimentação
inadequada e exagerada vai perpetuando o próprio quadro. Hoje a relação
da comida e da dopamina está mais bem estabelecida, apesar dos estudos
serem relativamente recentes”, avalia a endocrinologista Maria Edna de
Melo, da Associação Brasileira de Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica (ABESO).
“As coisas que nos causam prazer têm a capacidade de reforçar seu
próprio uso, porque são mediadas por vias nervosas viciáveis”, explica o
psiquiatra Adriano Segall, também da Abeso.
“A grande diferença entre as drogas e a comida é que você não precisa
da primeira, mas a segunda é, sim, uma necessidade”, avalia o médico.
Obesidade: quebrar o ciclo do comer abusivo envolve tratamento multidisciplinar | Foto: Reprodução Internet
Por isso, corrigir o consumo exagerado se torna bem mais complicado do
que encarar a abstinência. “Ninguém pensa em tratar dependente de álcool
falando pra ele beber menos, mas com a comida é por esse caminho que
temos de seguir”, pondera Segall.
Um dos primeiros passos é estimular a sensação de fome e de saciedade,
em geral perdida com a obesidade. Na sequência, retirar da alimentação
diária as comidas que causam mais dependência, ou seja, aquelas que
contêm mais gorduras.
“Elas dão menos saciedade, mas estimulam a comer mais. Temos de
trocá-las”, exemplifica o psiquiatra, reforçando a importância de um
tratamento multidisciplinar contra a obesidade.
Um time de especialistas deve acompanhar dieta, horários da
alimentação, doenças associadas e possíveis transtornos do humor para
verificar os gatilhos comportamentais e sentimentais que geram o comer
abusivo.
“É a partir daí que vamos trabalhar, Não existe receita de bolo, as
técnicas são bem individualizadas, é preciso testar e avaliar o
resultado e, se preciso, ir corrigindo o caminho”, opina o especialista.
Doença grave
Outro ponto importante para começar a vencer a obesidade é encarar a própria condição.
“A obesidade é uma doença, mas no fundo as pessoas ainda a consideração
como opção. O primeiro passo é entendê-la como uma doença crônica com
consequências graves”, ressalta Maria Edna de Melo.
Enxergá-la apenas como falta de força de vontade de um indivíduo pode ser tão prejudicial quanto incentivá-lo a comer mais.
“Toda doença precisa de tratamento e essa não é diferente. Algumas
pessoas precisam tomar medicamentos, outras não, mas todas precisam se
tratar e procurar médicos para isso”, afirma Maria Edna.
Também é necessário fazer com que a pessoa perceba o quanto está
comendo, para então diminuir o volume. Uma das táticas, explica a
endocrinologista, é pedir para o paciente anotar tudo o que tem
consumido. Dessa forma, ele vê quantidade e qualidade do que está
ingerindo, afirmou.
Já muito preconizado, o exercício físico pode ser uma grande arma na
tentativa de comer menos. Pesquisa feita na Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) mostra que a atividade aumenta sensação de saciedade e
diminui consumo calórico em até 30%.
A obesidade praticamente dobrou nos últimos 30 anos e é um dos
principais fatores de risco para doenças perigosas como a hipertensão, o
diabetes, e doenças cardíacas, além de afetar a qualidade de vida e até
a fertilidade.
As informações são da repórter Chris Bertelli, do IG
FONTE: http://odia.ig.com.br/portal/cienciaesaude/como-romper-o-ciclo-vicioso-da-obesidade-1.453089
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