José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: Família influi na obesidade infantil

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Família influi na obesidade infantil


Família influi na obesidade infantil Ver Descrição/Especial
Entre as crianças com idade de 10 a 13 anos, 80% consomem açúcar acima do nível recomendado Foto: Ver Descrição / Especial


Não basta preparar a refeição mais saudável, criar uma verdadeira revolução na lancheira e matricular os pequenos na natação, no futebol, na ginástica artística e no que mais for preciso para queimar calorias. No tratamento da obesidade infantil, é fundamental uma atuação interdisciplinar e uma perspectiva sistêmica em que a criança acima do peso seja vista como parte de um todo. Em outras palavras, o relacionamento entre pais e filhos e a história familiar são determinantes no processo de emagrecimento e devem ser articulados com as questões nutricionais e o processo de mudança de estilo de vida.
No recém-lançado livro Obesidade na Infância e Interações Familiares: Uma Trama Complexa (editora Coopmed), a mestre em ciência da saúde e coordenadora do setor de Psicologia do Hospital São Camilo, em Belo Horizonte, Valéria Tassara, aborda a obesidade na infância ampliando o foco da responsabilidade da própria criança para o contexto das relações parentais e sociais. Fatores biogenéticos, familiares e psicossociais inter-relacionados seriam definidores na constituição do problema.
O estudo, realizado no Ambulatório de Nutrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas, ressalta a importância de construir intervenções em redes cooperativas e solidárias entre as famílias, os profissionais de saúde, as instituições sociais e as políticas públicas para prevenir e tratar o excesso de peso na infância. Segundo a especialista, sozinha, seguindo um regime, a criança não consegue os efeitos necessários do tratamento.
A entrada da psicologia no processo ajudou a compreender como as crianças engordavam no contexto das relações familiares e sociais. Na pesquisa, a psicóloga identificou que algum fenômeno na origem das mães, como um sofrimento na família, favoreceria o emaranhado da relação com a criança.
— Observamos vários aspectos transmitidos entre gerações, como a obesidade e outras questões simbólicas. São valores e crenças compartilhados ao longo dos anos, uma identidade familiar sustentada no ser gordo. Não é só um padrão que se repete, mas um valor simbólico de sobrevivência do grupo familiar, do sentimento de pertencimento. Tornar-se magro e se diferenciar significaria ameaçar a existência da família em dada geração — explica.
Responsabilidade compartilhada
Se a obesidade infantil tem tamanha relação com a identidade familiar, vem a pergunta: é possível mudá-la? Como? Segundo a pesquisadora Valéria Tassara, a repetição pode, sim, ser contestada. Os próprios questionamentos dos familiares e das crianças permitem constituir um espaço de conversação com o profissional para a construção do processo de mudanças de hábitos alimentares e estilo de vida que se tecem às questões relacionadas à identidade familiar, valores e crenças.
A profissional lembra, por exemplo, de uma mãe que perguntou: "Aprendi que cuidar bem da minha família era dar muita comida. Como, agora, isso pode fazer mal à saúde deles?". Nesse caso, o marido tinha feito cirurgia de redução do estômago e a criança apresentou colesterol alto. A intervenção na perspectiva da psicologia sistêmica propiciou a construção de um contexto de autonomia em que os familiares e as crianças registram seus objetivos, elaboram sua proposta-projeto acordando entre eles suas responsabilidades compartilhadas para o processo de mudanças.
A participação da família no processo de diferenciação da identidade da criança é vivenciada como uma mudança que faz parte do ciclo de vida familiar, e não como extinção da sobrevivência do grupo. O melhor caminho é o da luta das famílias ao lado das crianças.
— Não para as crianças, e sim com elas. Que seja uma luta saudável no sentido de haver uma mudança de hábitos e identidades, e isso ser colocado como um projeto a ser construído pelo grupo familiar. Para isso, é fundamental que os familiares e os profissionais vejam que o problema é deles também, e não só da criança — acrescenta.
Há excesso de açúcar e gordura na dieta
Entre as crianças com idade de 10 a 13 anos, 80% consomem açúcar acima do nível recomendado pelos nutricionistas. Os dados são de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que registrou ainda consumo de gordura, pela mesma faixa etária, 89% acima dos padrões, e ingestão de fibras 82% abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Os dados foram apresentados pelo gerente de Pesquisas de Orçamento Familiares do IBGE, Edilson Nascimento Silva, no 8º Fórum Nacional de Alimentação Escolar, realizado no fim de maio em São Paulo.
Para a nutricionista Joana D'Arc Mura, coordenadora do comitê científico do fórum, os dados explicam o aumento da obesidade na população brasileira, especialmente entre crianças e jovens. Tal crescimento foi constatado pelo próprio IBGE em outro estudo. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o excesso de peso entre meninos de cinco a nove anos saltou de 10,9%, em 1974, para 34,8%, em 2009. Entre as meninas da mesma faixa etária, o sobrepeso subiu de 8,6%, em 1974, para 32% há três anos.

FONTE: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/bem-estar/noticia/2012/06/familia-influi-na-obesidade-infantil-3794182.html

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