Estudo publicado hoje defende novo indicador para
a sustentabilidade do planeta: a biomassa humana. E de acordo com esse
indicador, vamos ser mais difíceis de alimentar se continuarmos a ficar
mais gordos
Chama-se Danica Maio Camacho e vai completar oito meses de idade no
próximo dia 31. A bebé filipina foi apresentada ao mundo em Outubro de
2011, como representante da entrada da humanidade no patamar dos 7 mil
milhões de habitantes. As projecções de que seremos 9 mil milhões em
2050 têm servido para aumentar a urgência do debate em torno da
sustentabilidade alimentar e pressões sobre o ambiente.
Um novo estudo publicado hoje alerta que há outro indicador a pesar,
literalmente. Em 2005, o ano com dados comparáveis usado pelos
investigadores, a população adulta no planeta pesava 287 milhões de
toneladas, dos quais 15 milhões eram devidos ao excesso de peso. Isto
fazia com que o planeta, na altura com 4,6 mil milhões de pessoas acima
dos 15 anos, precisasse de recursos para alimentar o equivalente a mais
242 milhões de pessoas. E este número pode duplicar, se não se combater a
obesidade, alertam os investigadores.
“O aumento da obesidade na população poderá ter as mesmas implicações
para a procura de recursos alimentares que mais mil milhões de pessoas a
viver na terra”, lê-se no artigo publicado na edição online da revista
científica “BMC Public Health”.
Os investigadores da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de
Londres, Instituto de Ciências da Saúde de Leeds e Organização Mundial
de Saúde (OMS) advertem que as necessidades de energia de uma população
dependem não só do número de indivíduos mas também da biomassa. Se esta
variável tem sido incluída nos estudos da ecologia de outras espécies,
tem escapado às projecções em torno da população humana. O que pode
levar um enviesamento das necessidades reais: “A actividade física
representa 25% a 50% dos gastos de energia dos seres humanos. Como mover
um corpo mais pesado tem um maior custo energético, o uso de energia
aumenta com a massa corporal”, explicam os autores. “Actualmente, mais
de mil milhões de adultos têm excesso de peso e em algumas regiões do
globo a distribuição da massa corporal da população está a desviar-se
para cima.”
EUA ou Japão? Para
chegar à primeira estimativa do peso da população mundial, os
investigadores usaram dados da OMS para 190 países, com informação sobre
a população e prevalência de excesso de peso e obesidade. Segundo o
estudo, a América do Norte é a região com maior peso médio: 80,7 quilos.
A Ásia surge no outro extremo, com os habitantes a pesar em média 57,7
quilos.
Para perceber aonde querem chegar, os investigadores projectaram
cenários extremos: se todos os países tivessem uma distribuição de peso
na população como os EUA, 74% da população teria excesso de peso e só o
peso a mais da humanidade rondaria os 53 milhões de toneladas, mais de
duas vezes as estimativas actuais. O peso global da humanidade disparava
20%, para 345 milhões de toneladas. Por outro lado, se a regra fosse a
população japonesa, onde 22,3% da população tem excesso de peso, a
população mundial passaria a pesar menos 5% – 272 milhões de toneladas
em vez dos actuais 287 milhões. Seguindo-se o modelo dos EUA, as
calorias necessárias para alimentar toda a população com excesso de peso
(mais de 224 kcal por dia/adulto do que na população com peso normal)
dariam para alimentar mais 406 milhões de pessoas com peso normal.
O indicador menos complicado acaba por ser o de quantas pessoas cabem
numa tonelada – conta que os investigadores também fazem para cada país.
O pior rácio surge na América do Norte, onde uma tonelada de biomassa
humana corresponde a 12 adultos. A região tem apenas 6% da população
mundial mas contribui com um terço do fardo da obesidade. Na Ásia, no
outro extremo, cabem 17 adultos em cada tonelada. A região tem 61% da
população mundial e apenas 13% da biomassa atribuída à obesidade.
“As implicações ecológicas do aumento da população vão ser exacerbadas
pelo aumento da massa corporal média”, avisam os autores do estudo,
alertando que basta olhar para as dinâmicas da população mundial para se
perceber o problema. Calcula-se que a população dos EUA passe de 310
milhões de habitantes em 2010 para 403 milhões em 2050. Mesmo que a
maioria resulte da imigração, os recém-chegados tendem a adoptar o
estilo de vida local. Alertam também que na África e na Ásia as
populações urbanas estão a aumentar mais depressa do que as rurais.
Se isto fizer com que o planeta convirja para o cenário
norte-americano, significará um aumento da pressão alimentar como se
houvesse mais 473 milhões de adultos no planeta do que realmente há.
“Combater a obesidade da população pode ser crítico para a segurança
alimentar e sustentabilidade ecológica”, concluem.
FONTE: http://www.ionline.pt/mundo/humanidade-na-balanca-populacao-mundial-pesa-287-milhoes-toneladas
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