por Ricardo Nabais
Contar  carneiros. Ir dar uma volta, ver um programa de TV soporífero (os da  madrugada), regar as plantas, beber um chazinho sem teína. Quantos de  nós já não experimentaram uma noite a forçar o sono sem recebermos  qualquer visita desta faculdade repousante?
Pior: quantos de nós não  experimentam a sensação de insónia todas as noites? O desaparecido actor  australiano Heath Ledger era uma das poucas figuras públicas que  confessaram publicamente o seu distúrbio de sono. Ao ponto de a sua  morte prematura, aos 28 anos, poder ter sido causada pela ingestão em  excesso do medicamento que lhe estava prescrito para a insónia, num acto  de desespero.
Há anos que o holandês Eus Van Someren, director do  Departamento do Sono e da Cognição no Instituto Holandês para as  Neurociências, aplica os seus conhecimentos no estudo dos insones.
A  abordagem que propõe é diferente. Explicou-a esta semana no simpósio  Aquém e Além do Cérebro, subordinado este ano ao tema Sono e Sonhos,  promovido no Porto pela Fundação Bial. Trata-se de olhar para o cérebro e  procurar respostas. Ou seja, através do uso da ressonância magnética:  «Esta nova abordagem devia ser experimentada em muitos subtipos de  insónia. Vai dar-nos novas perspectivas sobre onde pode estar situado o  problema crucial para cada um desses subtipos», explicou ao SOL em  entrevista por e-mail.
Convém explicar que a insónia não é um  problema único nem facilmente isolável, e por isso os cientistas  arrumam-na hoje em subtipos (ver texto na página 56).
A nova  técnica, apressa-se a dizer Van Someren, não vem para substituir as  clássicas – como a terapia psicológica, acrescida de alguns fármacos –  mas vem dar uma ajuda.
E até já começou a surpreender os  cientistas que se dedicam às noites em branco. A começar pela própria  natureza da insónia. «Muitas pessoas que são tratadas podem nunca vir a  ter ‘bom’ sono», mas apenas tentar melhorar esse desempenho, de uma  forma mais ou menos precária. Isto porque a insónia «é em parte  hereditária», continua Van Someren.
Novas pistas
Se  a trazemos nos genes, então não nos resta senão baixar os braços? Nem  pensar. O que está ao alcance dos cientistas, neste ponto, é alargar a  capacidade de fazer diagnósticos correctos para cada paciente. 
Numa  das experiências levadas a cabo pelo grupo do holandês, a observação  centrou-se num subtipo de insones com ‘bom comportamento’ ao nível  neuropsicológico e que não apresentavam os níveis de ansiedade e de  depressão presentes noutras pessoas que sofrem do mesmo mal.
Escolhido  o grupo de estudo, vieram ainda mais surpresas. A ressonância magnética  mostrava que alguns respondiam bem ao tratamento indicado, enquanto  outros nem por isso. Estes acabaram por se tornar o ponto de maior  interesse do estudo: «Fornecem novas pistas sobre quais as partes do  cérebro que nos tornam mais vulneráveis ao desenvolvimento de insónias».
O  recurso à imagem para destrinçar a insónia no cérebro pode levar a  novos tratamentos, mas também a perceber que coisas tão simples quanto  melhorar a posição de repouso à noite podem ser fundamentais, sem que  nos apercebamos disso. «Se os sistemas de regulação do sono no cérebro  recebem um sinal fraco das áreas de sensação de conforto, talvez a ‘luz  verde’ para desligar a consciência não seja suficientemente forte»,  explica o neurologista.
Mas as conclusões também podem indicar que o tratamento pode ser reforçado por fármacos próprios.
De  qualquer modo, Van Someren deixa o aviso de qualquer especialista nesta  área. «Devíamos preocupar-nos mais com as horas que dormimos», até para  combater diversos males, que vão da depressão e da ansiedade, passando  pela dificuldade de compreensão e de aplicação dos conhecimentos  abstractos, até à obesidade. «Já alguém reparou que é mais fácil  começarmos a comer mais se dormirmos menos?», questiona. Para já,  enquanto as conclusões vão saindo dos laboratórios, a receita é simples:  «Estou convencido de que aderir às nossas necessidades compensa».
FONTE: http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=45621 
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