Por Antônio Carlos Moraes / 29.05.2012 - 12:07hrs
Mais um DDW! Apesar da grande distância, com quase 20 horas de
viagem, é sempre muito bom ir a San Diego. Cidade jovial, ensolarada,
com boa temperatura e um centro de convenções excelente.
Mais de 16 mil médicos de todas as partes do mundo. A delegação
brasileira, como vem acontecendo nos últimos anos, era bastante grande.
Vários pôsteres e lecture sections foram apresentados por brasileiros.
Estômago e duodeno não foram vedetes este ano. As doenças
inflamatórias intestinais, obesidade, hepatite C e desordens funcionais
do esôfago tiverem grande destaque.
Com as severas restrições impostas pela agência regulatória
americana, a área de exposição da indústria farmacêutica foi tímida e
pouco atrativa. Em nenhum momento esteve cheia, como em anos anteriores.
Gostei muito de ter participado da mesa sobre o uso inapropriado dos
inibidores da bomba de prótons (IBP). Sabemos hoje que existe um uso
exagerado e inadequado deste grupo de drogas e, que isso pode,
inclusive, comprometer a credibilidade de drogas tão importantes e
úteis. Associação com Clostridium difficile, nefrite
intersticial, pneumonia associada à ventilação mecânica e osteoporose
são algumas das alterações estudadas recentemente com o uso inadequado e
prolongado destas medicações. Devemos utilizá-las apenas nos pacientes
que, efetivamente, têm indicação terapêutica ou profilática.
A mesa sobre náusea, vômitos e gastroparesia também foi excelente.
Temos que ter bastante atenção com os pacientes diabéticos e valorizar
mais as queixas de dor abdominal, plenitude pós-prandial, náuseas e
vômitos neste grupo de pacientes. O uso exagerado de analgésicos,
especialmente nos pacientes idosos, também é importante causa de
gastroparesia e muitas vezes pouco valorizada, pois se costuma atribuir a
náusea e os vômitos ao efeito da medicação e não à gastroparesia. A
mesa citou o tramadol como uma das medicações que não valorizamos a
possibilidade de gastroparesia.
Helicobacter pylori esteve presente em inúmeros pôsteres,
temas livres e sessões plenárias. Associação com o câncer de estômago,
associação com polipose intestinal, dispepsia e potencialização de
efeito lesivo associado ao ácido acetilsalicílico (AAS) e clopidogrel
foram os mais abordados em relação a esta bactéria. É, sabidamente, o
maior fator de risco para o desenvolvimento do câncer de estômago. No
entanto, o efeito da sua erradicação para a prevenção do câncer gástrico
ainda é controverso, em particular, nos pacientes que apresentam lesões
gástricas consideradas pré-malignas. Existem fortes evidências para a
prevenção da progressão carcinogênica nos pacientes com gastrite
atrófica. No entanto, as evidências nos pacientes com metaplasia
intestinal e displasia são conflitantes. Talvez apenas a erradicação do Helicobacter pylori seja insuficiente para evitar a carcinogênese nos pacientes com metaplasia e displasia.
A preocupação com o grande número de pacientes usuários de
clopidogrel e AAS também foi bastante abordada. O acentuado número de
pacientes com hemorragia digestiva alta e baixa deixa evidente que é
necessário ampliarmos os estudos de profilaxia do sangramento. O Prof. Loren Laine, da Yale University School of Medicine,
ressaltou o fato de que o pantoprazol, um fraco inibidor da CYP2C19,
tem menos efeito na atividade farmacológica do clopidogrel e deve ser o
IBP de escolha nesta associação. Diz que faz esta recomendação baseado
nas orientações do Food and Drug Administrarion (FDA). Os IBPs continuam tendo grande destaque.
O trabalho brasileiro do grupo goiano, apresentado pelo Prof. Mauro Baffuto, do Instituto Goiano de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva,também merece destaque. Duodenal eosinophilia: a link between functional dyspepsia and post-infective functional dyspepsia? O
trabalho ainda será ampliado, mas já mostra um elo entre dispepsia
funcional e dispepsia funcional pós-infecciosa, pela grande quantidade
de eosinófilos encontrados no duodeno destes pacientes.
Agora é colocarmos em prática aquilo que aprendemos e esperar o próximo DDW 2013, em Orlando. Até lá!!!
FONTE: http://congressesupdate.com.br/ddw2012/destaque-para-estudo-brasileiro-ddi-obesidade-hepatite-c-e-desordens-funcionais-do-esofago/
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