José Carlos de Almeida - Projeto Criança em Movimento Obesidade Infantil em Maracaju: PESO E FOME: FISIOLOGICAMENTE FALANDO

segunda-feira, 2 de abril de 2012

PESO E FOME: FISIOLOGICAMENTE FALANDO

A obesidade é definida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), como uma doença crónica, caracterizada pela acumulação excessiva de gordura no tecido adiposo afectando negativamente o estado de saúde dos indivíduos. É um dos principais problemas de saúde pública da atualidade e está a aumentar a um ritmo alarmante. Num estudo realizado por Santos R et al, cujo objectivo foi avaliar a população adulta da Região Autónoma dos Açores, concluiu-se que as prevalências do excesso de peso foram 32,6% nas mulheres e 44,2% nos homens e da obesidade 18,8% nas mulheres e 16,4% nos homens. Resultados visivelmente preocupantes.São vários os fatores que atuam e interagem na regulação da ingestão alimentar e no armazenamento de energia, contribuindo para o surgimento da obesidade. Alguns fatores internos, ou seja, gerados pelo nosso corpo, determinam a nossa fome e o controlo do nosso peso, é o caso dos fatores neuronais, endócrinos, adipocitários e intestinais.FACTORES NEURONAIS
O hipotálamo é uma região do cérebro envolvida na regulação da fome, saciedade, respiração, e outras funções corporais. Atualmente sabe-se que no hipotálamo há dois grupos de neuropeptídeos (estrutura capaz de modular certos aspectos da função neuronal) envolvidos nos processos orexígenos (estimula a fome) e anorexígenos (inibe a fome). Os neurónios (células nervosas) que expressam esses neuropeptídeos interagem com outros e com sinais periféricos (como a leptina, insulina, grelina), atuando na regulação do controlo alimentar e no gasto energético, como veremos de seguida.
Factores Endócrinos e AdipocitáriosO tecido adiposo (tecido gorduroso) é considerado o órgão mais importante de armazenamento de energia do organismo humano. Durante muito tempo pensava-se que os adipócitos (células que constituem o tecido adiposo) serviam apenas para armazenar gordura, hoje sabe-se que estas células possuem função endócrina, ou seja, são capazes de produzir e secretar hormonas, sendo que a leptina e a insulina são elementos importantes nesse controlo e são secretadas em proporção à massa adiposa, ou seja, indivíduos obesos têm elevadas concentrações de insulina e leptina.A leptina é um petídeo responsável pelo controlo da ingestão alimentar, atuando em células neuronais do hipotálamo no sistema nervoso central. A ação da leptina promove a redução da ingestão alimentar e o aumento do gasto energético, além de regular a função neuroendócrina e o metabolismo da glicose e de gorduras. A insulina (hormona produzida pelas células beta do pâncreas) aumenta a captação da glicose, promovendo uma queda da glicemia sanguínea, o que serve de estímulo para o apetite. FACTORES INTESTINAISA absorção, ou mesmo a presença de alimento no trato gastrointestinal, contribui para modulação do apetite e para regulação de energia. O trato gastrointestinal possui diferentes tipos de células secretoras de peptídeos que, combinados com outros factores (descritos anteriormente), regulam o processo digestivo e atuam no sistema nervoso central para a regulação da fome e da saciedade.A grelina é um peptídeo produzido nas células do estômago e é um importante sinalizador para o início da ingestão alimentar. A concentração mantém-se alta nos períodos de jejum e nos períodos que antecedem as refeições, caindo imediatamente após a alimentação, o que também sugere um controlo neural. A grelina, além de aumentar o apetite, também estimula as secreções digestivas e a motilidade gástrica. O aumento da concentração de grelina diminui a ação da leptina, e vice-versa.A CCK (Colecistoquinina), um peptídeo intestinal, atua na promoção da saciedade, inibindo a ingestão alimentar, e também induz a secreção pancreática, a secreção biliar e a contração vesicular, favorecendo a digestão. Outro inibidor da ingestão alimentar é o peptídeo YY, ou PYY. Este peptídeo é expresso pelas células da mucosa intestinal, e sugere-se que a regulação é neural, uma vez que os seus níveis plasmáticos aumentam após a ingestão alimentar. Pessoas obesas apresentam menor elevação dos níveis de PYY pós-prandial, especialmente em refeições nocturnas, levando a uma ingestão calórica maior.A OXM (Oxintomodulina) é um peptideo secretado na porção distal do intestino que actua como um supressor da ingestão alimentar a curto prazo, agindo no hipotálamo diminuindo o apetite, a ingestão calórica e a concentração sanguínea da grelina. Como foi descrito, são várias as substâncias envolvidas na regulação do apetite e no controlo de peso, pelo que se demonstra a complexidade do comportamento alimentar e da homeostase energética. É preciso encarar a obesidade como uma doença e como tal deve ser tratada. A saúde, também passa pelo peso!
Tânia Rocha/Nutricionista
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FONTE: http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=27542

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