
Essa crise é econômica,
ambiental e energética. Por isto “exige respostas interligadas”, desde
soluções econômicas para atuar em situações como alta de preços dos
alimentos até intervenções de saúde e educação para promover uma
alimentação adequada, ou dos ministérios competentes para reduzir o uso
de agrotóxicos que contaminam o que comemos. “Entendemos a saúde como
desenvolvimento”, destacou Luiz Alberto Facchini, presidente da
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, uma das
organizadoras do Congresso, junto com a World Public Health Nutrition
Association.
Esse conceito compreende temas variados: sistemas
alimentares justos e com diversidade, políticas de nutrição, meio
ambiente e segurança alimentar para todos, ameaças à saúde, estratégias
de intervenção de êxito e fortalecimento da nutrição em saúde pública,
todos eles discutidos durante o Congresso.
“É inaceitável que 40%
da população mundial vivam abaixo da linha de pobreza”, enfatizou
Facchini. O combate à desigualdade social continua sendo um dos
principais desafios para garantir a segurança alimentar, destacou. “Para
reduzir as mortes por obesidade precisamos de regulamentações em
publicidade e soluções urbanas, com promoção de espaços de lazer para a
população”, acrescentou. E estes novos desafios superam os conhecimentos
dos nutricionistas.
Há políticas pontuais em alguns países e
muito mais amplas em outros, como nos africanos, disse o ganês Reggie
Annan, da International Union of Nutritional Sciences. “O principal
desafio é que não há políticas nutricionais”, apontou Annan, entre
outros problemas, como extrema dependência dos financiamentos externos
para programas alimentares, que, “como todos sabemos, não são
duradouros”.
Marion Nestle, da norte-americana Universidade de
Nova York, afirmou que os dois principais problemas alimentares são
desnutrição e obesidade. Cada um afeta um bilhão de pessoas em todo o
mundo. A especialista em políticas públicas estima que para enfrentar a
desnutrição é necessário combater a desigualdade social com medidas que
aumentem a renda familiar.
Quanto aos obesos, disse ser preciso
“enfrentar as forças políticas e econômicas poderosas da sociedade”,
como as empresas de alimentos que estimulam modelos insalubres de
consumo para obter lucro. “Não basta dizer vamos comer menos e educar. É
preciso confrontar as companhias de alimentos”, disse Nestle. Neste
aspecto, o Congresso propõe discutir leis que proíbam publicidade que
estimula maus hábitos alimentares na infância.
Uma das
experiências apresentadas se refere a uma iniciativa de médicos
britânicos que lançaram uma campanha contra as empresas de “comida
lixo”. A campanha da Academy of Medical Royal Colleges da Grã-Bretanha,
que representa cerca de 200 mil profissionais do país, pediu que se
proíba empresas como McDonald’s e Coca-Cola de patrocinar acontecimentos
esportivos como os Jogos Olímpicos e a publicidade de alimentos que não
são saudáveis utilizando personagens e desenhos animados.
Maluf
afirmou que em termos de dietas saudáveis se deve voltar aos hábitos
alimentares próprios da diversidade racial e cultural. Isto significa
reconhecer e valorizar os povos originários, para combater a
“homogeneização” de hábitos impostos pelos atuais modelos de consumo
mundial, explicou.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
63% de todas as mortes que ocorrem no mundo são causadas por doenças
crônicas não transmissíveis, e mais de 80% dessas mortes correspondem a
países em desenvolvimento e economias em transição. Assim, doenças
crônicas como diabetes, enfermidades cardiovasculares, câncer e
obesidade e seus fatores de risco contribuem para a geração e o
agravamento da pobreza.
Ao analisar “a cadeia de produção das
enfermidades crônicas não transmissíveis” aparecem quatro fatores de
risco que “estão intimamente ligados: pressão alta, glicose sanguínea
elevada, sobrepeso ou obesidade e colesterol alto”, afirma um documento
apresentado pelo Instituto Nacional do Câncer do Brasil (Inca). Dados da
OMS mostram que 28% de todas as mortes são atribuídas a esses fatores.
“Empresas
que têm por finalidade a venda de produtos, seja qual for sua natureza,
têm a missão de maximizar seus lucros, reduzindo custos de produção e
ampliando a demanda”, disse Fábio Gomes, da seção do Inca que estuda a
prevenção do câncer a partir de uma alimentação saudável. “Quando
falamos de alimentação queremos alimentos e água saudáveis, sem veneno”,
destacou Rafael Fernández, da Fundação Fiocruz.
Maluf considerou
que, para enfrentar estes assuntos e os determinantes sociais,
econômicos, políticos e ambientais da nutrição, é preciso criar uma
organização mundial de governança em segurança alimentar. “A pior
herança do neoliberalismo é a falta de desenvolvimento de políticas
públicas e seus instrumentos”, concluiu. Envolverde/IPS
(IPS)
FONTE: http://envolverde.com.br/noticias/obesidade-e-desnutricao-pedem-solucoes-multidisciplinar/
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